Juventude: Crise, identidade e escola – Marília Pontes Spósito (1996)


O tema juventude foi pouco tratado no período da ditadura militar no Brasil. É novamente discutido em maior quantidade e profundidade a partir dos anos 80. A autora afirma que após a década de 70 há uma reflexão sobre a educação: os processos sociais que que explicariam o fracasso escolar e também a categoria casse social e a reprodução das desigualdades que seriam centrais para a análise da escola (p. 96-97). Nos anos 80 caracteriza-se pelas discussões em torno da descoberta do espaço escolar, e também pelo resgate do ponto de vista dos sujeitos, levando-se em consideração as práticas sociais e produções culturais que são gestadas em espaços não institucionais. Torna-se imprescindível valorizar outras questões como gênero, etnias, gerações, etc. “É preciso ousar conhecer tanto a escola como os movimentos e atores coletivos, na condição de universos que gestam representações e práticas polissêmicas de produção cultural” (p. 98).

Mais do que nunca o jovem busca definir a sua identidade, é uma fase transitória, assim como a infância, mas toda fase não o é? Umas duram mais do que outras, é certo, mas logo depois se entra na fase adulta, na maturidade e senilidade, cada uma deve ter suas peculiaridades e o sujeito deve ter um modo de ver o mundo de forma característica em cada fase de sua vida. Spósito afirma que “se é jovem sempre em função de uma peculiar relação com o mundo adulto e com o universo infantil, do qual existe a tentativa de distanciamento” (p. 98).

No entanto, na fase jovem do ser humano, pela primeira vez ele ensaia para assumir e definir o que se é, já que em sua fase infantil os adultos o faziam por eles, ditando regras e impondo limites. Pode-se dizer que a rebeldia nada mais é do que a tentativa de expressar ou gritar ao mundo o que é, o que sente, sonha e sofre. É uma fase “de se perceber semelhante aos outros (ser reconhecido e reconhecer) e, ao mesmo tempo afirmar a diferença enquanto indivíduo ou grupo” (p. 99).

Assim, mais uma vez a representação do que é ser jovem, assim como Perrenoud afirma sobre o que é ser criança ou menor, a publicidade e mídia tem uma grande parcela de participação na formação das representações destes grupos sociais, e principalmente responsabilidade na formação de estereótipos em torno destas categorias. No caso dos jovens é comum os adultos os considerarem consumistas ou alienados, e no caso de alunos de escolas públicas, muitas vezes, são taxados de violentos e marginais. Spósito afirma que “o estereótipo é aliado íntimo do preconceito” (p. 99) e esta situação provoca dificuldades para o educador, além de o estereótipo não permitir que seja interrogado o sujeito acerca de sua condição, é negado o direito de fala justamente pelo preconceito, o que contribui para que adultos de um lado e jovens de outro tenham sempre receio de aproximarem e dialogarem sobre as dificuldades relacionadas à educação e relacionamento destes grupos sociais.

A autora fala como esta situação pode ser prejudicial ao jovem: “Essas significações, tornam-se, de fato, representações incorporadas pelo jovem no seu auto-reconhecimento, sendo traduzidas pelo estigma, que conforma, ou melhor deforma sua identidade”. Retorno ao que citei no texto anterior sobre a questão do valor do jovem trabalhador, menor aprendiz ou estagiário, que é visto sempre, no ambiente de trabalho, como um ser incompleto, em formação, transitório, como mão-de-obra barata e pouco qualificada, quando em realidade o jovem não deveria atender ás expectativas de ser ou mesmo deveria ser igualado a um profissional formado. O jovem carrega todo um fardo de preconceito que os adultos têm sobre eles: são preguiçosos, dormem demais, “somente” estudam por isso devem dar conta de muitas tarefas ao mesmo tempo, são indisciplinados, agressivos, inconsequentes, impulsivos, rebeldes, agitados, namoradores... Todos estes estereótipos com toda a certeza danificam a imagem que tem de si mesmo, ou pelo menos causam uma dúvida sobre sua identidade ou personalidade.

A autora questiona que o cerceio do jovem e o não direito de fala não dá espaço para que o jovem se abra para o mundo adulto, ou como alguns ainda desejam, que o jovem justifique seu modo de ser para o mundo. Qual seria a real necessidade por trás do consumismo, ou o ser alienado, seria alienado a tudo? Spósito ainda fala da não participação do jovem na política, entretanto, no Brasil este quadro vem se modificando, como exemplo cita-se as manifestações de junho de 2013 onde o movimento estudantil de São Paulo MPL – Movimento Passe livre questionou o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus o que desencadeou uma série de outras manifestações de diversas demandas em escala nacional, as quais o jovem teve um papel central. Percebe-se que o jovem não é tão alienado assim, talvez sua voz não seja ouvida em certos espaços e situações por motivos intencionais, talvez os jovens possam incomodar ou mesmo fazer com que os adultos saiam da sua zona de conforto, exigem mudanças que os adultos, por vezes podem não desejar.

Sobre o aluno trabalhador, Spósito fala que, quando introduzido precocemente no universo do jovem pobre, este pouco conforma em sua identidade, “o trabalho torna-se mais uma fonte de renda, ou seja, um mero emprego, do que o exercício de um ofício que ofereça realizações pessoais” (p. 1021). Assim, por necessidade o jovem aceita subempregos, bicos, estágios, o que cooperam para suprir demandas de seu núcleo familiar, mas não o ajuda na formação de sua personalidade. Com o tempo, este mesmo jovem pode ser levado a pensar que a escola não trará benefícios a curto prazo e pode abandonar a mesma. Depois de certo período, este mesmo jovem, em fase adulta, percebe que, por vezes, ainda ocupa a mesma posição: trabalha em subempregos e bicos, e resolve voltar a estudar na Educação de Jovens e Adultos para “melhorar de vida”, para ter uma realização pessoal, porque prometeu aos filhos e netos, ou porque deseja cursar uma graduação em uma faculdade.

A respeito dos espaços, a sociabilidade ganha bastante importância para configurar sua identidade e as ruas da cidade aparecem como protagonistas neste panorama, pois é nelas que vão se encontrar, que vão se reunir aos seus comuns, aos seus grupos de dança, música, grafite, dentre outra atividades, mas também pode ter um lado perverso onde encontram seus iguais em atividades ilegais como o crime, tráfico etc. A autora frisa que “quanto mais o Estado esta ausente na oferta de equipamentos destinados à cultura e lazer juvenis, mais a rua adquire relevância em suas dimensões socializadoras” (p.101).

 Assim, pode-se compreender que a escola nunca deve ser encerrada em salas de aula, o espaço de aprendizagem está e é em todo o lugar. A escola deve conseguir abarcar as ruas, o bairro e também a comunidade para fazer sentido em si. Pois nenhum aluno é encerrado em si mesmo, como pode ele fracionar parte de sua personalidade ou do seu ser para aprender diversas disciplinas, em um curto espaço de tempo diário, onde estas mesmas matérias, muitas vezes nem mesmo dialogam com seu cotidiano ou com suas dificuldades sócio emocionais, ou mesmo com sua cultura e vivências, com seu núcleo familiar? Parece-me um pouco irracional que seja assim, ou mesmo um pouco ultrapassado.

Estes questionamentos levam, mais uma vez a questão da crise escolar, da escolarização ou fracasso escolar “Poderíamos falar da crise em termos da instituição escolar, da ausência de projetos, culturais e educativos, portadores de algum significado, do esvaziamento do seu sentido para seus alunos” (p. 101).

Por último, a autora tece comentários sobre o conflito geracional, segundo ela, “eles enriquecem a vida social, porque oferecem novas alternativas e sinalizam possibilidades de mudanças” (p. 102). Em um ambiente onde exista autoritarismo por parte dos adultos (e não há como ser da parte dos jovens, pois eles não estão munidos com este poder)  não pode haver intercâmbio de ideias e debates prejudicando o espaço livre do diálogo e, por conseguinte, este enriquecimento da vida social, por outro lado, se o grupo dos adultos assumem uma postura mais democrática e aberta, “uma geração adulta capaz de assumir condição de portadora de um mundo de valores, regras, projetos e utopias, que deseja propor também aos educandos” (p. 102, então poderá haver uma comunicação salutar.

Ressalta que este choque de gerações molda e reformula o que precisa ser mudado, moderniza-o: “Não importa que, hoje, nosso legado contenha problemas sociais e humanos. Para que possam rebelar, contestar e criar um conjunto próprio de orientações e utopias os jovens precisam encontrar um estoque muito bem definido de valores oferecidos por seus educadores. Nos espaços democráticos da convivência com as diferenças entre as idades, entre os ciclos de vida e as gerações, pode-se caminhar para um encontro que desenha projetos comuns capazes de oferecer novos e múltiplos caminhos para a prática educativa” (p. 102).

Ofício do aluno e sentido do trabalho escolar – Perrenoud (1995)


Muitas vezes me deparei com diversas fichas de inscrição para cursos, ou para receber notícias em meu email, ou para tantos outros motivos que nem sei e nem me lembro, e essas fichas solicitavam que informasse minha profissão. Sempre achei muito estranho assumir minha profissão como “estudante”. Mas então estudante é uma profissão? Quando se formalizou essa carreira? De onde veio? Tem seus direitos assegurados? Ou seria uma atividade que estigmatiza um cidadão por este ainda não ter uma ocupação “formal” no mercado de trabalho, seria ela inferior à uma profissão? Por quê ainda alguns torcem o nariz e dizem: “é só um estudante!”?

São tantas dúvidas que minha conclusão não pode ser outra: o “ser estudante” é um grande paradoxo. É uma atividade que pode ser categorizada como profissão mas ao mesmo tempo não tem o mesmo valor de um oficio comum conhecido no mercado de trabalho. Quando você diz, “sou cozinheira, gari, secretária, dentista”, etc. e quando diz “sou estudante” tenho a plena certeza que, para o ouvinte em questão, estas atividades não tem o mesmo valor. O ser estudante parece ser apenas um meio para algo maior, e não algo em si. É uma fase transitória. Me parece que o "ser estudante" aqui no Brasil se torna algo relacionado a desvalorização da educação aqui em nosso país, pois quando você afirma "sou estudante" ou "sou professor" as pessoas perguntam: "mas você só estuda?" Ou "mas você só dá aulas?" ...

Me parece que um estudante é, para a grande maioria, um ser incompleto, um ser em constante formação, mas ora, não é assim em toda atividade? Caso um profissional fique estagnado em seu oficio logo será superado pelos avanços tecnológicos, novas práticas, novas descobertas, logo haverá uma desvalorização de seu oficio. 



Assim, Perrenoud afirma que “o aluno é uma pessoa que pratica seu ofício à sua maneira. Em compensação qualquer ofício modela, por sua vez, aquele que o exerce, mas a pessoa nunca é redutível ao seu ofício” p. ( 202). O autor considera que o ser aluno é um ofício, no entanto que o sujeito não assume o papel de aluno fundindo-se com o seu ser. Fala também que o aluno aprende seu ofício por imitação dos vizinhos, por um “fazer como os outros” “o ofício dos alunos aprende-se no local de trabalho imitado os outros” (p. 203).

Penso todavia, que nesta ambiguidade, a atividade de ser aluno/estudante não deveria ser considerada como uma profissão. Penso que até mesmo o nome que indica essa determinada categoria social é inadequado. Soa melhor ser “aprendiz”, aprendemos durante a vida toda, o aprendizado não está limitado apenas a frequentar uma escola; aprendemos em casa, na rua, no clube, na igreja, na quadra de esportes, no parque, em tantos lugares e em tantas idades diferentes, penso que ser estudante jamais deveria ser categorizado como um ofício.

O autor fala que qualquer indivíduo é único, singular, mas que existem denominadores comuns entre todos, tais como a geração, a família, classe social, a comunidade que gera um habitus, que sem serem idênticos apresentam semelhanças. Cita três tipos de influências para a formação de suas características pessoais:
- Da família e grupo social que faz parte;
- das turmas que participa e professores que teve no período escolar;
- Grupo de pares, os outros alunos.  

Aprende seu ofício por meio de:
- Apropriação de representações sociais que circulam entre os seus pares e entre os adultos;
- Imitação, impregnação mais ou menos conscientes de formas de fazer, que decorrem na aula e incarnam a realidade do trabalho escolar;
- Interiorização de limitações objetivas que induzem respostas adaptadas às situações escolares.

Se o estudante desenvolve alguma atividade extra classe ou fora da sala de aula, até porque hoje atualmente o local que é mais valorizado como espaço de aprendizagem é a classe/sala de aula, seja uma pesquisa, ou um estágio remunerado, então penso que este é sim um ofício, a pessoa está produzindo algo e gerando riqueza para alguém ou para si, então acredito que poderia ser categorizado como uma profissão. Apesar dos diversos tipos de estágios que os estudantes desenvolvem serem considerados uma profissão, e terem inclusive uma Lei de Estágio que é especifica para a atividade, estão longe terem seus direitos parecidos com os de um trabalhador comum. Muitas vezes, as empresas, órgãos de pesquisa dentre outros deixam de contratar trabalhadores que são regidos pela CLT para “economizar” e acaba por assinar contratos com estagiários que, na maioria dos casos, desenvolvem as mesmas funções que um empregado comum, com a diferença de que não tem benefícios assegurados pela empresa ou governos e muito menos salários equivalentes ao de um profissional comum.

Percebe-se novamente a desvalorização do oficio de ser estudante quando o senso comum aponta os resultados do trabalho (afinal é considerado um ofício!) de um estagiário como incompleto, insuficiente, errado, e ainda trata o ser social estudante/aluno, na maioria das vezes como se fosse dotado de certa incapacidade intelectual para realizar tarefas no ambiente de trabalho, se comparado com um profissional regido pelas leis da CLT. 


Mas este sujeito resolveu realizar este estágio, como o nome bem diz, uma “passagem” com o intuito de aprender algo? Como poderia ele estar pronto para tal função? Em alguns casos os jovens assumem tal posição mais por questões financeiras geradas pela desigualdade social do que realmente pelo desejo de aprenderem algo fora das salas de aula, em um ambiente “de trabalho” onde, teoricamente, se poderia aprender, a partir da prática, uma profissão.

Percebe-se que novamente há mais uma desvalorização do “ser aluno/estudante”, pois seu ofício, apesar de ser considerado uma profissão, é tido como inferior, porque são seres inacabados, estão em transição para um mundo adulto que, quando chegarem lá, talvez possam ser mais valorizados e terem, ao realizarem tarefas para terceiros, um salário à altura. Sabe-se que desde muito antes do período da revolução industrial muitas crianças já trabalhavam, mas neste período, muitas vezes, morriam ou tinham seus corpos mutilados por máquinas e recebiam apenas a metade ou menos da metade do salário de um homem adulto.

Neste sentido é possível refletir e acreditar que o trabalho de jovens e mulheres continua sendo inferiorizado, mas adquiriu um tanto de sofisticação e foi mesmo mascarado para ser aceito no mundo adulto como legal e institucionalizado. As crianças continuam trabalhando dentro de casa, cuidando de seus irmãos quando os pais trabalham e realizando afazeres domésticos, mas não são remuneradas por isso; ou ainda ajudam nas lidas do campo, ou ainda realizam tarefas caracterizadas como trabalho escravo.

Em determinado momento, houve em várias partes do mundo, uma escolarização para que fosse aplicada às crianças e jovens, e esta escolarização confinou a aprendizagem e ensino, que antes se adquiria com a família, comunidade, líder religioso e/ou outras lideranças de grupos, dentro de caixotes chamados salas de aula. Homogeneizou crianças, didáticas, saberes, disciplinas, ambiente, professores e o mundo perdeu parte de uma imensa riqueza de conhecimento gerada através da criatividade, espontaneidade, e diversidade. A escolarização criou a categoria social “aluno/estudante”, pois aprendizes todos os são durante toda a sua vida.

Pois bem, este papel que muitos jovens têm que assumir, o de aluno/estudante e estagiário, em detrimento do personagem de “aprendiz” custa-lhes sua autoestima, não são bons o suficiente para o mercado de trabalho, mas também não são bons o suficiente para as escolas, pois muitos professores sempre os desmotivam, avaliação em forma de notas não é incentivadora ou indicadora de que adquiriu algum conhecimento, além de ser um método que incita a comparação entre a performance dos alunos. Sempre subjugados, não pertencem a nenhum lugar no ‘mundo dos adultos” pois nunca são bons o suficiente para estes outros. Ainda tem que lidar com as mais diversas desigualdades sociais e muitas vezes vão para a escola, que deveria os acolher, já que foi criada para tal, com fome, ou sem material.

De todo modo, Perrenoud teta desvendar o universo do aluno e tenta descrever como se dá a forma com que se habitua ou que interioriza a ser um aluno/estudante, quais as práticas, os modos, as técnicas, o que o influencia para compor sua personalidade-aluno.

Ele descreve que inicialmente há o tempo da estranheza, do qual o estudante entra num mundo desconhecido rompendo com o mundo familiar; o tempo aprendizagem, no qual se adapta e produz um certo conformismo, e por último o tempo de uma filiação que é um período de interpretação ou até mesmo de transgressão das normas instituídas (p. 205).

Sobre a pedagogia o autor diz que “ser aluno em qualquer pedagogia é sempre o fazer” (p.2017) “a relação pedagógica e o ofício de aluno estão estreitamente imbricados” (p. 209).

O autor fala também da importância de chamar a atenção dos professores para o ofício e aluno e para a relação com o saber. “Embora o saber esteja no centro da identidade da escola, esta raramente o torna como objeto de uma interrogação aberta” (p. 202). Fala ainda do ofício de aluno e de como cada um se apropria do saber e assimila as técnicas para adquiri-lo: “É numa certa solidão que cada um se esforça, longe das normas didáticas e das declarações de intenções, por compreender o que é o saber, para que serve, e como é que o indivíduo se apropria dele” (p. 212).

Dentro de sala de aula, face a esta crítica de como se adquire o saber, Perrenoud afirma que o saber aparece como um valor em si mesmo, um investimento para satisfazer as expectativas dos adultos. Por isso os alunos aprendem a: Renunciar e não ir a fundo em uma questão; calar a sua curiosidade; a exprimir o que é conveniente e não o que pensam; a não reportar os saberes às suas condições sociais de produção (p. 213).


Daí resulta uma negociação entre professores e alunos, dado que ambos vivem em uma ambiguidade: podem ficar sem trabalhar e estudar que logo vão querer retornar às suas atividades, mas quando retornam, voltam a sonhar com as férias ou com a não obrigação de cumprir suas funções rotineiramente. “Síndrome do prisioneiro que sonha com as correntes quando á foi libertado” (p. 214): é um modus vivendi que “consegue evitar mais habilmente tanto os excessos de laxismo como os de severidade” (p. 217).

Sobre as desigualdades o autor afirma que “nem todos os alunos são iguais na escola, que – quando ela pratica a indiferença pelas diferenças – transforma estas desigualdades de ordem extraescolar em desigualdades de aprendizagem, logo em sucessos e insucessos” (p. 217), o que remete ao fracasso escolar e aos fracassados, e também as questões das classes sociais de onde provém os alunos, pois é muito claro que se descende de uma família de classe abastada tem muito mais chances de ter sucesso na aprendizagem em contraponto a uma aluno trabalhador por exemplo, que muitas vezes abandona os estudos para trabalhar, e nem sempre tem um ofício certo, uma carreira ou profissão, muitas vezes ocupa subempregos ou bicos, já que não tem opção e precisa contribuir no núcleo familiar. Muitos anos mais tarde, ou mesmo quando tem condições financeiras para pelo menos sobreviver retorna à escola, mas agora na Educação de Jovens e Adultos.

Acabo me lembrando de um livro que já pude ler fragmentos "A Geografia do Aluno Trabalhador" - Marcia Spyer, neste livro são abordadas como são as percepções de alunos que vivem em área rural e urbana, como encaram o dia a dia, como acompanham a a natureza existente no campo, tais como o sol, a chuva, as estações do ano, os rios, a colheita e plantação e como esta sabedoria presente em sua vida pode ser aliada no ensino da geografia. Por outro lado o aluno trabalhador da cidade possui maior conexão com a orientação, os deslocamentos, as redes de trafego, as regiões, já que este aluno, muitas vezes, enfrenta uma rotina dentro da cidade em que ele é levado a estar em contato com muita informação, em se locomover em coletivos, em movimentos pendulares e outros tipos de relações com o cenário urbano. toda essa riqueza de vivência é muito útil para o ensino da geografia.


Perrenoud termina seu texto afirmando que “nem todos os alunos são iguais face ao ofício de aluno e à construção do sentido” (p. 220).

TEXTOS AUXILIARES - O Aluno como invenção – José Gimeno Sacristán (2005)


A naturalização do que ocorre cotidianamente quando estamos acostumados a certa situação ou fato, quando não refletimos e/ou contestamos sobre tal: “Tudo que nos é familiar tende a ser visto como natural” “...esse modo de ser dá sentido ao modo de entendermos e de nos representarmos no mundo cotidiano, dá conteúdo a nosso senso comum”. Esse senso comum vai sendo enriquecido por nós com representações tomadas de outros, com o que nos contaram, com os discursos e histórias que escutamos – cultura que herdamos – que falam das experiências prévias dos antepassados dos quais somos herdeiros” (p. 11).

Fala ainda, que o aluno é uma construção social inventada pelos adultos, e estes (pais, professores, cuidadores, legisladores, ou autores de teorias sobre psicologia do desenvolvimento) são os responsáveis pela organização da vida dos não-adultos.

Se os menores são representados como seres escolarizados de pouca idade, é o mesmo que dizes que são incapazes de gerir suas próprias vidas, de tomar decisões, de escolher o que querem estudar, a que horas querem acordar ou dormir, quando querem brincar e de quê, ou se querem praticar esportes, ou dança... é o mesmo que dizer que não podem decidir e fazer escolhas em suas vidas e que isso deve ser feito por um “responsável”, um “maior”. Quando não se dá a voz para os menores definirem e dizerem o que são, com o que sonham e o que querem fazer instintivamente o adulto o faz por eles. Essa é uma questão meramente e exclusivamente de ter poder para definir uma situação, ainda que não seja admitido ou compreendido por parte dos adultos. E é de posse de todo esse poder sobre a vida dos menores, que é considerada uma fase transitória para o ser humano, por mais que ela nunca vá deixar de existir no mundo, pois os sujeitos menores vão continuar a nascer e ocupar tal categoria social, que muitas vezes ocorrem casos de violência, abusos, opressão, dentre outros, seja dentro da escola, nos centros religiosos, em casa ou nas ruas.

Ao ler o texto do Sacristán me perguntei, o que é ser menor? A própria palavra vem carregada de estereótipos formados pela mídia, o "de menor" é sempre sinônimo do "menor infrator" , há sempre menores "do bem e do mal", os do bem são crianças, jovens, mas os do mal são menores e também estão envolvidos com questões ilegais. Fiz uma busca no Google com a palavra menor e me assustei um pouco, o que digo aqui é o que o a pesquisa me revelou: a imagem construída de que o menor está a margem, é marginal, criminoso, em sua maioria é negro, do sexo masculino, pode estar armado, ou ostentando colares caros, carros, mulheres, fugindo da polícia.

Vejam abaixo os prints das telas de acordo com as buscas no Google:

Criança:


Aluno:


Jovem:

Menor:


Sacristán fala que estamos tão presos às realidades cotidianas e aos semelhantes que nos rodeiam e ao que fazem para nós que não nos sentimos estimulados a imaginar um outro mundo possível (p. 13). E por isso a figura do aluno é tão naturalizada e pouco tem-se questionado sobre ela, não é inquirido sobre o que significa esta condição social que é transitória, ainda que, durante este período de vida possam ocorrer situações boas ou ruins que marquem o sujeito em sua fase infantil, jovem e adulta, que vão muitas vezes, influenciar seu caráter, seu modo de vida, e seu modo de ver e interpretar o mundo e a vida, individual ou em comunidade/sociedade.

Se é natural ver o aluno como menor, é natural também pensar que o ser humano deve ser escolarizado desde sua infância e juventude. A condição de crianças de jovens de 3-15 anos serem escolarizadas “é uma forma estatisticamente normal de estar em nossa sociedade” (p.13), sendo assim, seria anormal um jovem estar fora da escola até esta idade, mas sabemos que a evasão escolar possui grandes índices no Brasil, seriam considerados então como alunos desviados ou anormais os que abandonaram a escola? Por mais que muito se discuta atualmente sobre o sistema educacional brasileiro, a condição de trabalho dos professores, a infraestrutura das escolas, métodos de ensino, pouco se fala das desigualdades sociais entre alunos crianças e jovens, o que muitas vezes os levam a abandonar os estudos.

Se este aluno já era considerado “fora dos padrões” quando deixou de estudar o que dizer quando este em sua fase adulta, ou menos senil decide retornar para dentro de uma sala de aula? Seria o caso da Educação de Jovens e Adultos. Em determinado momento de sua vida estes cidadãos e cidadãs tiveram seus direitos sociais negados, mas arcaram com os preconceitos que recaíram sobre si por não terem terminado seus estudos, quando retornam será que sofrem novamente preconceito por terem problemas relacionados à alfabetização, por serem “velhos demais para uma sala de aula”. Acredito que sim.


Se a imagem do menor está associada a figura do aluno, que é naturalizado desta forma, que é assim que o senso comum vê e dá valor, pode-se inferir que um “aluno maior” cause estranheza ao senso comum e sofra preconceitos ou mesmo rejeição.

Sacristáo fala sobre o modo de vida do aluno, que em torno da categoria social “aluno” “formou-se toda uma ordem social na qual se desempenham determinados papéis e se configura modo de vida que nos parece muito familiar porque estamos acostumados a ele. Essa ordem propicia e obriga os sujeitos nela envolvidos a serem de uma determinada maneira” (p. 14). Questiona quais aspectos da pessoa em estágio de infância entraria nesse modo de vida, a sua individualidade como ser humano, suas características culturais, suas experiências em sociedade, em família, seus sonhos, sua forma de pensar e agir, sua personalidade. O autor chega à conclusão que “A infância construiu em parte o aluno e este construiu parcialmente a infância” (p.14) “Acreditamos que o modo de ser aluno é a maneira natural de ser criança, representamos os dois conceitos como se fossem, de alguma forma, equivalentes. Em compensação não identificamos qualquer adulto como se fosse professor, porque sabemos que nem todos o são” (p. 15).  Nesta última passagem o autor mostra mais uma forma de se utilizar do poder para definir o que os outros são “quando eu não faço parte destes outros”, quando eu defino os significados para “o grupo dos outros”, ou seja, do menor, da criança, jovem, adolescente, aluno ou estudante, sem contar com a participação dos envolvidos, dos sujeitos que estão a ser analisados, caracterizados e representados.

O autor aborda, em seu texto, a outro polêmico tema: o fracasso escolar. A centralização das discussões variadas em torno da educação, mas que em raríssimos momentos focaliza aluno ou no “ser aluno” conduz a essa falência. “Pouco se fala das mudanças que deveriam ocorrer a partir das condições dos sujeitos receptores. Quando se diz que uma inovação fracassa ou tem êxito, poucas vezes se apela para o que representa uma ou outra para o aluno, no que melhora sua qualidade de vida” (p. 15). Assim o que se exige dos alunos, sem que estes participem e mesmo dê um retorno do que está dando certo ou errado seria o mesmo que esperar que o sistema seja cada vez mais decadente e deteriorado.

Nesta perspectiva muito se ouve em sistema de educação público brasileiro falido e ruim, nota-se que “o fracasso escolar preocupa, mas os fracassados nem tanto” (p.15), pois não se, ouve dizer que a situação socioeconômica dos alunos ou mesmo as desigualdades sociais vão ser melhoradas para que o sistema educacional ou mesmo a educação no país tenha sucesso. Percebe-se uma pequena preocupação em implantar um acompanhamento escolar psicopedagógico para o aluno e sua família no sistema educacional público de educação, que alguma escola talvez tenha interesse em ajudar os alunos a passarem ou mesmo a desvendarem questões tão importantes como “quem sou eu, de onde vim para onde vou, por que o mundo é desta forma, como devo me sociabilizar com a família comunidade e escola, porque sofro, porque sinto dor, etc”. Dentre outras questões que perpassam as disciplinas ensinadas nas escolas mas que envolvem os sujeitos que estão as assimilando e que, dependendo de sua situação e momento de vida não terão o menor respaldo, interesse ou significado para os mesmos.


Sacristán faz uma comparação que chega a ser um pouco engraçada e trágica: “no discurso estão mais presentes os professores que os clientes”. Em uma empresa o mundo gira em torno do cliente, ele deve estar satisfeito em suas mais detalhadas demandas, no entanto, no mundo escolar, ou “mundo educação” isto não acontece nas escolas públicas pois o serviço não envolve um pagamento diretamente do aluno para com o professor, mas que é pago indiretamente pelo governo por seus serviços prestados. O mesmo não ocorre em escolas particulares onde os clientes são os pais dos alunos e novamente se configura um ambiente onde quem está de posse de todo o poder é o adulto professor e os adultos pai e mãe, aos quais tem-se que atender à tal expectativa do que uma escola deve oferecer. O aluno é mero coadjuvante nesta história onde deve atender as expectativas dos pais, assim também os professores devem atender às expectativas dos pais.

Ainda fala da escolarização sobre ser uma demanda por justiça social, ou mesmo uma questão de dignidade humana, como se a escolaridade e a condição de menores estivessem sempre que estar ligada a condição de alunos para que estivessem exercendo um direito. Esta questão está ligada com a declaração dos direitos da criança”. Fala ainda sobre a força que a publicidade tem para definir o que são os menores.

O autor sugere que haja uma desnaturalização sobre o que é ser menor, aluno ou jovem “devemos tentar desentranhar o pensamento que define infância e como ela é construída, para saber quem acreditamos ser a criança e o jovem dentro da sociedade, indo além dos discursos científicos” (p. 24). 

Trabalhos interdisciplinares


Foi sugerido durante as reuniões de equipe que poderíamos fazer um trabalho interdisciplinar que envolvesse o tema identidade. Para a disciplina de Geografia serão utilizadas as biografias já elaboradas pelos alunos e também trabalhos posteriores. Ainda não foi decidido qual será o formato do trabalho, mas provavelmente será apresentada na última semana de aula durante a “Semana cultural”.


Com relação a outros trabalhos interdisciplinares será desenvolvido juntamente com a equipe de português, para o primeiro semestre, uma atividade que envolve o filme "Narradores de Javé", um filme brasileiro de 2003, dirigido por dirigido por Eliane Caffé.


Veja o filme "Narradores de Javé" completo:


Para o segundo semestre estamos tentando elaborar uma atividade que envolva o livro "Cinco anos sem chover" de Lino de Albergaria. No livro Raimundinho e sua mãe partem para São Paulo à procura de seu pai e em busca de melhores condições de vida. Passam por muitas dificuldades, porém mãe e filho conseguem chegar e se estabelecer na cidade.

Reunião de área e de equipe


As reuniões semanais de área, no caso da disciplina de Geografia, ocorrem às quartas feiras de 15:00 hs às 17:00 hs, com uma professora do centro pedagógico a qual é nossa orientadora. Nestas reuniões, as quais são muito produtivas, expomos o que estamos lecionando para os alunos, o conteúdo a didática e materiais usados, nossas dúvidas e anseios. A coordenadora sempre nos orienta da melhor forma possível, sempre nos dá dicas de exercícios, dinâmicas, nos ajudando até mesmo a superar nossos medos e receios.

Há algum tempo atrás eu estava bem presa no conteúdo e estava com medo de não dar “tempo de passar o conteúdo”. A coordenadora esclareceu que eu não devia ter pressa com os alunos, que eles deveriam aprender uma certa temática de modo que não restassem dúvidas, do contrário eu não teria atingido o objetivo de ensinar à turma. Fiquei mais tranquila e percebi que cada aula é de um jeito, por mais que você programe sempre haverá surpresas. 


As reuniões de equipe ocorrem as sextas-feiras de 17:00 hs as 21:00 hs. Os primeiros 30 minutos da reunião são utilizados para relatar as questões administravas do projeto; em seguida, os próximos 30 minutos são utilizados para o estudo do livro “Pedagogia do Oprimido” de Paulo Freire, os estudos são feitos em dupla e todos devem ler 15 páginas a cada semana. Os próximos 30 minutos são destinados para discutir a vivência associada aos estudos em questão.
Há um lanche em que as equipes de iniciantes, continuidade ou concluintes se revezam para organizar e comprar os alimentos.

Uma vez a cada mês temos a reunião de formação. No primeiro momento temos reunião com o coordenador geral do projeto, coordenadores de equipe, alunos e professores monitores. Em seguida as equipes de áreas das disciplinas levam convidados e estes apresentam temas variados que contribuem para a formação dos professores monitores.

Aulas para além do conteúdo


Como os alunos não tem tempo para estudar e fazer exercícios em casa, algumas aulas foram planejadas para fazerem atividades em sala.

Quando passei a atividade “Biografia” para fazerem em casa muitos não fizeram e outros tantos tiveram dúvidas. Percebi que era uma dinâmica que não funcionaria muito bem, pelo menos por enquanto, até se acostumarem a ter uma rotina escolar e de estudos. Tento sempre passar músicas, filmes, textos, e materiais variados, mas não utilizamos ainda o recurso do data show.

Na 1ª aula elaboramos perguntas introdutórias, as quais as professoras perguntavam para cada aluno:

PING PONG INTRODUTÓRIO

Nome:
Idade:
Nasceu em..
Mora na Cidade e bairro...
Mora com...
Parou de estudar em que idade:
Voltou a estudar porque...
Sua atividade favorita é...
Se não fosse você mesmo você seria...
Você não gosta de...
Você gostaria de ter o dom de...
Sonha com...

 Também usamos a mesma metodologia para abordar sobre temas da Geografia. Este recurso didático foi utilizado de desinibição inicial dos alunos, interação entre os mesmos e também foi uma forma de introduzir alguns temas que os alunos irão estudar durante o ano na disciplina de Geografia. Em roda, cada aluno falava o nome do colega sentado ao seu lado e fazia uma pergunta:

PING PONG GEOGRÁFICO

Nasceu em qual região do Brasil?
Você descende de...
Verão ou inverno?
Dia ou noite?
Chuva ou sol?
Primavera ou outono?
África Europa ou América?
Qual o lugar que mais gosta?
Gostaria de viver em qual cidade?
Gostaria de conhecer qual cidade do Brasil?
Serra, campo, cidade ou praia?
Qual sua paisagem favorita?
Gosta do horário de verão?
Minas Gerais, Bahia ou São Paulo?
O melhor tipo de transporte?
Trabalho na indústria/fábrica, na roça ou no comércio?
Internet, televisão rádio ou telefone?
Mata Atlântica, Cerrado ou Caatinga?
Rio, cachoeira, lagoa ou mar?
Texto mapa ou imagem?

Na 2ª aula que abordávamos o tema Paisagem utilizamos a música “Paisagem na Janela” de Beto Guedes


Na 3ª aula passei uma atividade em que eles ficaram bem envolvidos foi a atividade em que eles deveriam recortar de uma revista (National Geographic) uma imagem qualquer e responder as questões sobre o tema ‘Transformações na Paisagem”.
As perguntas eram:

Que elementos você vê na paisagem?
Quais são os elementos naturais?
Estes elementos já foram modificados pelo ser humano? Como?
 Qual é a diferença entre natureza e paisagem?
Você acha que tudo que utilizamos vem da natureza? Explique e dê exemplos.
 Quais os elementos identificados na imagem também estão presentes no lugar que você mora?



Imagem exercícios

Na 9ª aula passei um exercício sobre planos da paisagem e cartografia em que deveriam colorir um mapa e associar legendas e comandos da atividade. A monitora de pedagogia me alertou que poderia ser um exercício infantil, mas decidi dar o exercício mesmo assim. Ao final da aula, os alunos estavam adorando colorir, estavam relaxados e o principal é que estavam reconhecendo símbolos e associando aos comandos, cores e legendas.


Na 10ª, 11ª e 12ª utilizamos o mapa do IBGE, eles levaram para casa e fizeram exercícios sobre limites, fronteiras e divisas, e também regiões brasileiras.




Indaguei aos alunos se eles queriam que eu deixasse de passar conteúdo no quadro e trouxesse mais xerox para eles, me responderam que gostariam que eu continuasse a escrever no quadro para que eles pudessem ter a chance de escrever mais e de ler e que com isso iriam “gravar” o jeito certo de se escrever.  O argumento deles foi parcialmente aceito por mim, já que para aprender a ler e escrever corretamente não basta copiar, há que conseguir ler e produzir textos.



Cheguei à conclusão de que as aulas ficariam muito repetitivas se eu as lecionasse somente dessa forma, seria muito centralizadora no professor, o que nunca foi meu objetivo e resolvi intercalar estas aulas mais tradicionais com aulas que envolviam atividades variadas. 

Em seguida mostro uma charge que faz crítica ao método "copiar do quadro". Atualmente os alunos universitários utilizam bastante os recursos tecnológicos em diversas situações, e já ocorreu de eu presenciar e eu também tirar fotos de quadros em sala de aula. 



Abaixo posto imagens de algumas atividades  realizados pelos alunos: