TEXTOS AUXILIARES - Helena Copetti Callai “A formação do profissional da Geografia” (2013)

Com o que temos vivido no Brasil desde meados de 2013, se intensificando em 2016 com a troca de governo, em meu ponto de vista, com o golpe do vice-presidente Michel Temer, apoiado pela câmara de deputados, senado, judiciário, polícia federal, organizações estrangeiras, e parte da população no Governo Dilma, é extremamente atual e tristemente distante quando Callai diz que  “Todas estas mudanças, cada vez mais profundas e mais rápidas, exigem uma postura de busca de entendimento do processo de compreensão de que se deve trabalhar para a transformação do mundo, da sociedade, em geral, das relações entre homens e da relação da sociedade coma  natureza, mas também com a ideia de transformação da escola, do ensino, da aprendizagem” (p. 104).

Sabemos que o atual governo tem uma proposta neoliberal e conservadora, a qual várias reformas, por vezes necessárias, são impostas sem o menor cuidado de serem discutidas com sociedade, com especialistas, sem mais aprofundados estudos e debates. No âmbito da educação, temos a reforma do ensino médio, a PEC 141/55, a escola sem partido, precarização da profissão de professor, como não aprovação do piso salarial nacional dos professores, contratação de pessoas de “notório saber” sem formação para lecionar, flexibilização das leis trabalhistas... e o sucateamento dificilmente irá parar nestas “reformas, pois a intenção é piorar a educação gratuita para que, aqueles que puderem “comprarem uma educação particular”. É precarizar para privatizar. 

Neste sentido, a formação de professores está altamente comprometida pelos acontecimentos políticos atuais. Até mesmo o programa PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, programa que contribui para a formação de professores está ameaçado de ser extinguido.


É preciso força para não desistir e persistir, esclarecer e mudar. Callai afirma que “O desafio do novo estimula ir adiante, mas para tanto, torna-se fundamental entender o que está acontecendo, ter instrumentos teóricos e metodológicos para analisar a realidade e compreendê-la como presente, carregada de passado e, especialmente com o olhar no futuro” (p. 104).

Como geógrafos temos que lidar com a realidade com um senso crítico para compreendermos os fenômenos, pois são mais mais que “problemas do espaço”, são questões sociais. O que vivemos intensamente na vida política do Brasil pode ser comparado ao “remédio amargo” que foi necessário para o “gigante despertar”. As massas manipuladas em 2013, alguns intencionalmente, a grande maioria despreparada e ingênua levou ao desfecho do impedimento da presidenta Dilma e acesso à Temer no poder, ao qual está ruindo com o já frágil sistema educacional brasileiro.

A passagem de Callai combina muito bem com o momento político que estamos vivendo: “Hoje estamos vivendo um processo de mudanças aceleradas... Estamos entendendo tudo isso?” (p. 113).

Como geógrafos e professores não podemos nos afastar de tal discussão. Primeiro porque devemos analisar criticamente fatos, fenômenos físicos, sociopolíticos, econômicos, já que é o cerne de nossa formação específica. Segundo, como educadores, não podemos nos afastar de questões que irão influenciar nossa vida e nosso “ambiente de trabalho” cotidianamente, talvez até o fim de nossa vida, de nossa aposentadoria, se está ainda resistir e existir até o fim deste governo. Terceiro, é importante termos uma formação tradicional, talvez até mesmo burocrática, consultando e estudando documentos que nos levam a aprender sobre currículo, didática, psicologia dentre outros, porém não podemos fugir da realidade que nós professores vivemos, mas que os alunos também vivem e experimentam, pois em algum momento estes estudantes nos questionarão sobre esta realidade, e seria interessante que tivéssemos um posicionamento e um conhecimento sobre o os fatos e o mundo que vivemos.

Os alunos, estarão sempre nos observando, nos escutando. Passaremos, mesmo sem intencionalidade, valores, impressões, ideias, ideologias. É o que Callai afirma: “A dimensão pedagógica deve ser dada nessa perspectiva, buscando, pois, a formação de um profissional que não pode prescindir de valores éticos e morais, os quais juntamente com a competência técnica vão dar aos vários sujeitos a sua diferenciação no acesso ao mercado de trabalho e sua permanência” (p. 111).

Na perspectiva polêmica do debate Bacharelado X Licenciatura, Callai argumenta que “A função técnica e a função social são aspectos constitutivos da formação e se uma requer a fundamentação teórica e prática no exercício das atividades, com o domínio das técnicas (de pesquisa, do planejamento territorial e da docência), a outra é base da argumentação, traduzida na relação dialógica, que vai dar sustentação ao encaminhamento do trabalho” (p. 106). E ainda: tanto a função técnica quanto a função social precisam ser pensadas e discutidas, não em sai mesmas, mas no que se traduzem no interior de um curso” (p. 107)

Em minha vida experiência acadêmica, pude cursar o bacharelado e em seguida a licenciatura. Quando iniciei o curso de geografia me passava a possibilidade de ser professora, tinha receios, dúvidas, que ao longo da licenciatura foram se aclarando e se dissipando. Porém, jamais me senti preparada somente com o bacharelado. Acredito que a formação técnica (bacharel) aliada à docente (licenciatura) é o ponto máximo que um indivíduo consegue aproveitar em sua formação no tocante da graduação. Acho que fiz um caminho correto cursando o bacharelado, amadurecendo, me munindo de conhecimento, para depois lidar com todo este conteúdo e sabe-lo aplica-lo, repassá-lo, construí-lo juntamente com outras crianças/adolescentes.

Curiosamente, o professor que eu acompanhei durante a prática pedagógica se graduou em licenciatura na UFMG, fez mestrado em organização do espaço. Porém a todo momento me sentia na presença de um palestrante, e eu a ouvinte juntamente com os alunos, ao contrário da sensação que tive com o outro professor do colégio, o qual acompanhei no semestre passado nas turmas do fundamental. Este professor é formado em licenciatura na PUC e tem mestrado profissional, porém, suas práticas pedagógicas se aproximavam mais das de um professor que este último professor do 3º ano do Ensino Médio. A frase “o melhor saber é aquele que sabe superar-se” (p. 110) serve muito bem para esta análise de perfil. 

Outro ponto negativo que ressalto foi o pouco envolvimento deste professor com minha formação de futura professora, sua falta de tempo, os muitos afazeres, as muitas aulas e unidades da rede de ensino para se deslocar restringiram nossas conversas a poucos minutos após as aulas. Não houve participação na formulação da aula pratica que lecionei, também não me respondeu um questionário que enviei com algumas perguntas sobre sua trajetória como professor. Seria o mesmo que pensar que “Partimos de que está definido o que é preciso para ser um profissional da Geografia e não estamos definindo isso a a partir da realidade em que estamos vivendo, mas de verdades absolutizadas. (p. 114).

Neste sentido, a aula prática foi pensada a partir da vivência dos alunos em sala de aula somada aos acontecimentos políticos no país, principalmente os que envolvem a área da educação, e ainda em questões mais pessoais, como frustações e sonhos dos estudantes. Posso dizer que a aula foi pensada mais pela sensibilidade do que elo currículo, mais pela necessidade do que pelo padrão. Parti dos alunos-sujeitos para depois busca arcabouços na Geografia, o que foi pouco utilizado dado a efusão de conteúdo veiculado durante todo ano e a exaustão dos alunos.

A frase de Calai sintetiza o que experimentei: “O professor exerce a sua cidadania dando conta de gerir a sua própria atividade profissional, construindo e reconstruindo, constantemente, o saber e, daí sim, poderá pensar em formar cidadãos, ou seja, fazer das suas aulas oportunidades para que os alunos construam o seu conhecimento, se interessem pelas tarefas e compreendam o significado que tem tudo isso” (p. 122).

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