O excesso de informações confunde a
experiência. No momento atual em que vivemos temos especialistas em tudo,
autodidatas, pessoas que querem ensinar sem ao menos terem tido uma experiência
aprofundada com o tema/assunto. Larrosa explica que isso se dá, após o excesso
de informações, que é quando se chega às muitas opiniões.
Se por um lado este excesso de
informações é perigoso, já que é comum se disseminar informações falsas ou
mesmo erradas, ao mesmo tempo abre-se um mundo à parte onde é possível aprender
muitas coisas, ainda que com equívocos, é uma oportunidade de aprendizado. Ainda
que o autor afirme que “A informação não
é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é
quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência” (p. 21)
acredito que o mundo é melhor com informações do que sem, a informação é uma
primeira porta em que o indivíduo se depara rumando ao processo de experiência,
de viver de fato, algo.
É interessante pensar que na escola os
alunos tem um guia, o professor, o qual passa seu aprendizado acumulado ao
longo dos anos, impregnado de suas experiências, suas crenças e valores. Sendo
assim, é preciso pensar em uma escola em que computadores, celulares, internet
e tecnologia estão cada vez mais presentes na vida dos alunos, professores,
funcionários, família, colegas... e até mesmo na escola. Cabe ao professor usar
esta tecnologia como sua aliada, saber transformar a informação em experiência
aliando práticas didáticas convencionais ou alternativas, o conhecimento prévio
do aluno e sua bagagem adquirida em sua formação como professor, sua
experiência de vida. Larrosa também fala que a experiência implica tempo, e na
“sociedade da informação/ conhecimento/aprendizado” o tempo é cada vez mais
raro e o excesso de trabalho mais comum.
Ao longo da prática pedagógica pouco
conheci dos alunos, da vida deles, de quem são, seus desejos, seus anseios, o
que me motivou a elaborar a aula prática voltada para os alunos como
protagonistas. Experimentei ao longo de dois meses aulas-show expositivas com
metodologias repetitivas, cansativas, com pouquíssima ou nenhuma participação
dos alunos-expectadores, onde os pontos centrais eram o professor, a apostila e
o ENEM. Aulas inundadas de informações, mas devido à pouca participação dos
alunos no “fazer-experimentar” me questiono se eram aulas que levavam ao
conhecimento ou à simples memorização voltada para um exame obrigatório.
Sobre este fato, sobre a centralidade
do sujeito-aluno ressalto e associo duas passagens de Larrosa: “Vamos agora ao sujeito da experiência. Esse
sujeito que não é o sujeito da informação, da opinião, do trabalho, que não é o
sujeito do saber, do julgar, do fazer, do poder, do querer” (p. 24).“É incapaz
de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem
nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada
o ameaça, a quem nada ocorre” (p. 25).
O que pude
perceber é que os alunos do Ensino Médio do Colégio que já tem seu perfil
voltado para cursos preparatórios, são forçados a se tornarem sujeitos da
informação para atender ao sistema de ensino, em que, para se ter acesso à uma
universidade, principalmente pública e de qualidade é-lhe exigido boas notas na
prova do ENEM. E em detrimento, perdem a experiência, ou mesmo acabam por
carregar uma experiência vazia de si mesma, é como ver algo acontecer mas não
estar participando, penso em uma imagem de “ver um carro, ônibus, navio,
trem... se afastando, mas não estar dentro deles”, é quase uma experiência
vazia e melancólica de se ter muitos fatos, coisas, novidades mas não poder
experimenta-la nos em diferentes nuances. O único lugar que os alunos querem
chegar é à universidade, mas neste curso do 3º ano do Ensino Médio não embarcam
no “trem do conhecimento”, mas no “trem da informação”.
Penso e aprendi
nestes anos de licenciatura que o conhecimento é construído, sua base pode ser
a experiência de quem aprende e de quem o conduz. A informação não é
conhecimento, tão pouco experiência como explica o autor. É apenas uma porta
que deve ser aberta para se chegar à algum lugar, para que o sujeito ou o
“território de passagem” possa adentrar e provar sua travessia.
Em síntese, Larrosa
explica que experimentar é viver:
“A palavra experiência tem o ex de exterior, de estrangeiro, de exílio, de estranho e também o ex de existência. A experiência é a passagem da existência, a passagem de um ser
que não tem essência ou razão
ou fundamento, mas que simplesmente “ex-iste” de uma forma sempre
singular, finita, imanente,
contingente” (p. 25).
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