Jorge Larrosa Bondía: “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” (2002)

O excesso de informações confunde a experiência. No momento atual em que vivemos temos especialistas em tudo, autodidatas, pessoas que querem ensinar sem ao menos terem tido uma experiência aprofundada com o tema/assunto. Larrosa explica que isso se dá, após o excesso de informações, que é quando se chega às muitas opiniões.

Se por um lado este excesso de informações é perigoso, já que é comum se disseminar informações falsas ou mesmo erradas, ao mesmo tempo abre-se um mundo à parte onde é possível aprender muitas coisas, ainda que com equívocos, é uma oportunidade de aprendizado. Ainda que o autor afirme que “A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência” (p. 21) acredito que o mundo é melhor com informações do que sem, a informação é uma primeira porta em que o indivíduo se depara rumando ao processo de experiência, de viver de fato, algo.

É interessante pensar que na escola os alunos tem um guia, o professor, o qual passa seu aprendizado acumulado ao longo dos anos, impregnado de suas experiências, suas crenças e valores. Sendo assim, é preciso pensar em uma escola em que computadores, celulares, internet e tecnologia estão cada vez mais presentes na vida dos alunos, professores, funcionários, família, colegas... e até mesmo na escola. Cabe ao professor usar esta tecnologia como sua aliada, saber transformar a informação em experiência aliando práticas didáticas convencionais ou alternativas, o conhecimento prévio do aluno e sua bagagem adquirida em sua formação como professor, sua experiência de vida. Larrosa também fala que a experiência implica tempo, e na “sociedade da informação/ conhecimento/aprendizado” o tempo é cada vez mais raro e o excesso de trabalho mais comum.

Ao longo da prática pedagógica pouco conheci dos alunos, da vida deles, de quem são, seus desejos, seus anseios, o que me motivou a elaborar a aula prática voltada para os alunos como protagonistas. Experimentei ao longo de dois meses aulas-show expositivas com metodologias repetitivas, cansativas, com pouquíssima ou nenhuma participação dos alunos-expectadores, onde os pontos centrais eram o professor, a apostila e o ENEM. Aulas inundadas de informações, mas devido à pouca participação dos alunos no “fazer-experimentar” me questiono se eram aulas que levavam ao conhecimento ou à simples memorização voltada para um exame obrigatório.

Sobre este fato, sobre a centralidade do sujeito-aluno ressalto e associo duas passagens de Larrosa: “Vamos agora ao sujeito da experiência. Esse sujeito que não é o sujeito da informação, da opinião, do trabalho, que não é o sujeito do saber, do julgar, do fazer, do poder, do querer” (p. 24).“É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre” (p. 25).

O que pude perceber é que os alunos do Ensino Médio do Colégio que já tem seu perfil voltado para cursos preparatórios, são forçados a se tornarem sujeitos da informação para atender ao sistema de ensino, em que, para se ter acesso à uma universidade, principalmente pública e de qualidade é-lhe exigido boas notas na prova do ENEM. E em detrimento, perdem a experiência, ou mesmo acabam por carregar uma experiência vazia de si mesma, é como ver algo acontecer mas não estar participando, penso em uma imagem de “ver um carro, ônibus, navio, trem... se afastando, mas não estar dentro deles”, é quase uma experiência vazia e melancólica de se ter muitos fatos, coisas, novidades mas não poder experimenta-la nos em diferentes nuances. O único lugar que os alunos querem chegar é à universidade, mas neste curso do 3º ano do Ensino Médio não embarcam no “trem do conhecimento”, mas no “trem da informação”.

Penso e aprendi nestes anos de licenciatura que o conhecimento é construído, sua base pode ser a experiência de quem aprende e de quem o conduz. A informação não é conhecimento, tão pouco experiência como explica o autor. É apenas uma porta que deve ser aberta para se chegar à algum lugar, para que o sujeito ou o “território de passagem” possa adentrar e provar sua travessia.

Em síntese, Larrosa explica que experimentar é viver:

“A palavra experiência tem o ex de exterior, de estrangeiro, de exílio, de estranho e também o ex de existência. A experiência é a passagem da existência, a passagem de um ser que não tem essência ou razão ou fundamento, mas que simplesmente “ex-iste” de uma forma sempre singular, finita, imanente, contingente” (p. 25).


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