08/11 – Aula prática pós Enem – “Cotidiano, vida e cidadania”.


A princípio eu havia me planejado para dar uma aula com o mesmo tema da sequência didática que elaboramos na disciplina, a qual abordava aspectos institucionais da organização do espaço da cidade e a vivência da cidade pelo aluno.

Entretanto, alguns fatores me motivaram a modificar a aula inicial. Ao longo das observações e à medida que os acontecimentos políticos se desenrolavam, o formato das aulas do colégio, a rotina maçante dos alunos, se empenhando ao máximo para tirar uma boa pontuação no ENEM me levaram à conclusão de que deveria levar aos alunos uma aula/espaço de reflexão sobre o momento de vida que eles vivem, seja no campo pessoal, político, familiar e/ou estudantil. Além disso o conteúdo da sequência didática era bastante denso, e após a prova do ENEM os alunos estavam esgotados, sendo assim a aula deveria ser mais leve e alternativa.

Por serem alunos do 3º ano do Ensino Médio e terem que lidar coma transição para a vida adulta e uma série de questões do dia a dia que talvez passem despercebidos ou sem uma maior reflexão, optei por me concentrar no tema: “Cotidiano, vida e cidadania”.



Ao chegar na sala, pedi que sentassem nas carteiras em roda, coloquei no quadro o tema da aula, expliquei que a aula seria dividida em dois momentos: seriam exibidos dois clips de músicas e teríamos duas discussões, a primeira voltada para eles mesmos e a segunda voltada para os acontecimentos políticos mais recentes em diferentes esferas governamentais.

Elaborei algumas perguntas para iniciar a discussão, mas meu intuito era de que a aula fosse dialogada e que fosse um espaço de reflexão já que as aulas eram sempre padronizadas, expositivas e voltadas para o conteúdo do ENEM.

Momento 1 (50 minutos):
·         Exibição do clip da música Bola de meia, bola de gude” – Milton Nascimentos –


·   Após o vídeo os alunos poderiam falar de seus sentimentos, suas apreensões e seus sonhos. Algumas perguntas/provocações:
“Como está sua vida?”
“Você gosta da escola?”
“Quais seus sonhos e desejos?”
“O que você espera para o futuro”


Momento 2 (50 minutos):
·         Exibição do clip da música “Perfeição” – Legião Urbana -


Seguimos discutindo os acontecimentos atuais no país, principalmente no que se refere à educação e política. Perguntas/provocações:
“Como você vive o espaço da cidade?”
“Quais direitos e deveres você exerce?”
“O que você acha das reformas no sistema educacional brasileiro?”
“Pec 241/55 e ocupações. A favor ou contra?”

A resposta dos alunos foi muito positiva, muitos se identificaram com o clip da música Bola de meia, bola de gude, gostaram do desenho e da história que representava a vida de uma criança e de um adolescente mudando. Contaram que queriam tirar carteira de habilitação, viajar, ser feliz, alguns namoravam, muitos falaram da família e dos amigos, como eram sua base para enfrentar os desapontamentos e tristezas, como o colégio era importante para alguns, já outros disseram que vão à escola por serem obrigados e que queriam passar logo no ENEM para “ficarem livres” mas tinham anseios com relação ao ENEM. Comentaram sobre à possíveis fracassos da vida adulta como a faculdade e emprego, demonstrando inseguranças com relação ao futuro, outros porém, já disseram que a família tinha uma empresa e que iriam se encaixar, ou mesmo seguir a profissão do pai e /ou da mãe. Falaram também que em muitos momentos eram pressionados pelos pais para escolherem profissões mais tradicionais como medicina, direito e engenharia. Uma aluna disse que queria muito cursar história, que pensou em ser professora, mas que seus pais não aceitavam esta opção e ela iria optar por direito ou administração. Alguns disseram que por mais que tenha sido desgastante vão sentir muita falta dos amigos e dos professores, e até mesmo da rotina.


No segundo momento discutimos principalmente sobre a PEC 241/55 e as ocupações nas escolas. Disseram inicialmente que isso nunca iria acontecer na escola deles, pois era uma escola particular. A sala estava dividida com relação às ocupações, alguns apoiavam outros não principalmente devido à fragmentação da aplicação de provas do ENEM.

Nas escolas que estivessem ocupadas nos dias 05 e 06 de novembro de 2016 não seriam aplicadas as provas do ENEM. Foi um período de muitas dúvidas dos estudantes, professores, gestores do cursinho, dos alunos secundaristas muitas informações ao mesmo tempo, o que gerou muita ansiedade para os alunos que iriam prestar o exame. O governo do Estado de Minas Gerais tentou negociar com o MEC para que as provas fossem aplicadas simultaneamente às ocupações, assim como as eleições se deram de forma tranquila, porém o Governo Federal foi irredutível em sua decisão, o que complicou a situação, e em meu ponto de vista, foi uma estratégia arquitetada para colocar em lados opostos estudantes secundaristas e alunos que iriam realizar o exame com a intenção de enfraquecer as ocupações. Alguns estudantes do colégio e do Pré realizaram sua prova somente nos dias 03 e 04 de dezembro.

Abaixo segue alguns informativos do MEC veiculados no período das ocupações em sua página de rede social:




Primeiramente alguns alunos comentaram que achavam a PEC muito ruim, alguns sabiam que o Governo Federal iria congelar os gastos em saúde e educação por 20 anos, para outros no entanto foi uma surpresa. Alguns falaram que apoiavam as ocupações, que eram uma tentativa para barrar a PEC, porém que não iriam participar, já que estavam concluindo o ensino médio além de estudar para o ENEM. Um aluno se mostrou com raiva das ocupações pelo fato de sua prova ser adiada e suas férias demorar a chegar. Alguns se disseram desencantados com o governo e com a política.

Uma aluna disse que se gostou do discurso da estudante secundarista Ana Júlia, disse que ela “calou a boca dos deputados”. Comentaram sobre a truculência da polícia, que não achavam certo jogarem bombas e baterem nos alunos.  Surgiu uma indagação sobre as pichações as escolas, um aluno contrapôs falando da organização das ocupações na limpeza, cozinha etc.

Para quem ainda não viu segue o discurso da secundarista Ana Julia, 16 anos, estudante do Colégio Estadual Senador Manuel Alencar Guimarães em Curitiba, A aluna defendeu as ocupações na Assembleia Legislativa do Paraná:


O trabalho de reflexão/ discussão realizado com os alunos durante a aula prática foi um dos melhores momentos da prática pedagógica, aprendi muito com eles, e acredito que eles se conheceram um pouco melhor, além de conhecer os colegas, seus pensamentos, seus desejos e posicionamentos. Foi um espaço reservado para a discussão, ao pensamento crítico, o que é algo positivo, já que o fazem tão pouco durante as aula.

Essas são fotos das ocupações do Estadual Central em BH:





Deixo a indicação deste documentário sobre as ocupações de 2016, “Ocupações Estudantis Por eles mesmos”:


E este link do site jornalístico El País que mostra várias reportagens sobre ocupações nas escolas brasileiras desde 2015: 

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