No ensino de Geografia, assim como
qualquer disciplina, é muito comum o professor acabar por se entregar ao
“conteudismo”, sem fazer uma análise mais aprofundada, sem intencionalidade de
se atingir a realidade do aluno, sem correlacionar fenômenos reais e descritos
no livro.
Couto pensa o ensino de Geografia
através de uma tríade: Práticas
espaciais; Saberes espaciais e
Produção do conhecimento na escola. Diz que a prática será exposta e negada
pelos saberes, logo em seguida, estes saberes serão desenvolvidos e contestados
pelo conhecimento científico.
“O
processo de ensino-aprendizagem seria o resultado do movimento dialético de
negação e de superação, insto é, negação da negação: a prática espacial é
expressa e simultaneamente negada pelos saberes espaciais (primeira negação);
os saberes espaciais (abstrações de um concreto) são aprofundadas e simultaneamente
questionados pelo conhecimento científico (segunda negação)”
(p. 28).
Um exemplo do que Couto cita e que
vivenciei na prática pedagógica foi quando um aluno perguntou ao professor se o
celular é um bem durável ou não durável. Conceitualmente, um celular é um bem
durável, ou seja, não é perecível. Um eletroeletrônico é produzido em um tipo
de indústria, as de bens de consumo que têm produção voltada diretamente para o
mercado consumidor comum, elas ramificadas em bens duráveis ou não duráveis.
Entretanto, a prática dos alunos os induz a pensar que um celular, por sua
dificuldade em permanecer funcionando satisfatoriamente devido à quedas,
problemas técnicos, vulnerabilidade à líquidos, mudanças de sistemas, modelos, dificuldades
de trocas de peças, dentre outros, e pelos aparelhos modernos durarem no máximo
5 anos, é um produto não durável, ou seja, tem hora certa para parar de
funcionar. Então cabe ao professor desconstruir este saber, que por mais que
seja parte verdadeiro e tenha partido de experiências vividas pelos alunos, não
é verdadeira em sua origem. Há uma contradição.
É quando entra o conhecimento
científico que dá respaldo para a classificação/explicação de bem durável,
porém justifica e aprofunda quando fala de obsolescência programada que é uma
prática comum no modo de produção capitalista atual, em que o fabricante de um
produto eletroeletrônico, de forma intencional desenvolva, fabrique, distribua
e venda um produto que, dentro de certo tempo, fique ultrapassado, obsoleto, ou
que não tenha o material tão resistente que não quebre, arranhe, estrague,
objetivando que este consumidor volte a comprar novos produtos dentro de um
período pré-estabelecido.
É muito comum exemplificar este
conceito/prática com a produção de lâmpadas, as antigas lâmpadas
incandescentes, as “amarelas” duravam muito tempo e custavam a queimar, e as
atuais lâmpadas fluorescentes ou “brancas” queimam com mais frequência e
rapidez.
Couto infere que “a ascensão do abstrato ao concreto com o método de exposição, a partir
da qual a aprendizagem de conceitos e conteúdos se inicia com problemas
socioespaciais que sejam significativos para os alunos e, simultaneamente,
fundamentais à compreensão da produção capitalista do espaço” (p. 28)”. É a
partir de algo que traga significado para os alunos, algo que esteja presente
na vida deles, na desconstrução ou no aprofundamento de conceitos que se
consolida o conhecimento.
O professor, percebendo o interesse ou
talvez até mesmo a surpresa dos alunos com relação ao novo aprendizado pode
complementar a discussão levando vídeos, textos, ou mesmo realizando projetos
com os alunos para aproveitar o interesse e expandir sua experiência, ou seja,
o aluno poderá “viver o conceito”, experimentá-lo, passar do abstrato para o
concreto e recomeçar o movimento. Indico um documentário sobre o assunto: “A história secreta da obsolescência
programada”:
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