Marcos Antônio Campos Couto: Método dialético na didática da Geografia (In; Produção do conhecimento e pesquisa no ensino de Geografia – Lana Cavalcanti et al.)

No ensino de Geografia, assim como qualquer disciplina, é muito comum o professor acabar por se entregar ao “conteudismo”, sem fazer uma análise mais aprofundada, sem intencionalidade de se atingir a realidade do aluno, sem correlacionar fenômenos reais e descritos no livro.

Couto pensa o ensino de Geografia através de uma tríade: Práticas espaciais; Saberes espaciais e Produção do conhecimento na escola. Diz que a prática será exposta e negada pelos saberes, logo em seguida, estes saberes serão desenvolvidos e contestados pelo conhecimento científico.

“O processo de ensino-aprendizagem seria o resultado do movimento dialético de negação e de superação, insto é, negação da negação: a prática espacial é expressa e simultaneamente negada pelos saberes espaciais (primeira negação); os saberes espaciais (abstrações de um concreto) são aprofundadas e simultaneamente questionados pelo conhecimento científico (segunda negação)” (p. 28).
Um exemplo do que Couto cita e que vivenciei na prática pedagógica foi quando um aluno perguntou ao professor se o celular é um bem durável ou não durável. Conceitualmente, um celular é um bem durável, ou seja, não é perecível. Um eletroeletrônico é produzido em um tipo de indústria, as de bens de consumo que têm produção voltada diretamente para o mercado consumidor comum, elas ramificadas em bens duráveis ou não duráveis. Entretanto, a prática dos alunos os induz a pensar que um celular, por sua dificuldade em permanecer funcionando satisfatoriamente devido à quedas, problemas técnicos, vulnerabilidade à líquidos, mudanças de sistemas, modelos, dificuldades de trocas de peças, dentre outros, e pelos aparelhos modernos durarem no máximo 5 anos, é um produto não durável, ou seja, tem hora certa para parar de funcionar. Então cabe ao professor desconstruir este saber, que por mais que seja parte verdadeiro e tenha partido de experiências vividas pelos alunos, não é verdadeira em sua origem. Há uma contradição.

É quando entra o conhecimento científico que dá respaldo para a classificação/explicação de bem durável, porém justifica e aprofunda quando fala de obsolescência programada que é uma prática comum no modo de produção capitalista atual, em que o fabricante de um produto eletroeletrônico, de forma intencional desenvolva, fabrique, distribua e venda um produto que, dentro de certo tempo, fique ultrapassado, obsoleto, ou que não tenha o material tão resistente que não quebre, arranhe, estrague, objetivando que este consumidor volte a comprar novos produtos dentro de um período pré-estabelecido.

É muito comum exemplificar este conceito/prática com a produção de lâmpadas, as antigas lâmpadas incandescentes, as “amarelas” duravam muito tempo e custavam a queimar, e as atuais lâmpadas fluorescentes ou “brancas” queimam com mais frequência e rapidez.


Couto infere que “a ascensão do abstrato ao concreto com o método de exposição, a partir da qual a aprendizagem de conceitos e conteúdos se inicia com problemas socioespaciais que sejam significativos para os alunos e, simultaneamente, fundamentais à compreensão da produção capitalista do espaço” (p. 28)”. É a partir de algo que traga significado para os alunos, algo que esteja presente na vida deles, na desconstrução ou no aprofundamento de conceitos que se consolida o conhecimento.

O professor, percebendo o interesse ou talvez até mesmo a surpresa dos alunos com relação ao novo aprendizado pode complementar a discussão levando vídeos, textos, ou mesmo realizando projetos com os alunos para aproveitar o interesse e expandir sua experiência, ou seja, o aluno poderá “viver o conceito”, experimentá-lo, passar do abstrato para o concreto e recomeçar o movimento. Indico um documentário sobre o assunto: “A história secreta da obsolescência programada”:

Nenhum comentário:

Postar um comentário