PRÁTICA PEDAGÓGICA II - Minha experiência no Colégio Nossa Senhora das Dores


Neste semestre tive um novo ambiente para observar os alunos, os professores e todo o contexto do dia a dia de uma escola. Consegui realizar o estágio obrigatório no Colégio Nossa Senhora das Dores, entretanto, a greve que ocorreu na UFMG atrasou todos os alunos para darem início em seus estágio obrigatórios. Quando cheguei ao CNSD no dia 12/11/2015 os alunos já estavam na reta final do ano, muitos entregando caderno para os professores darem vistos e realizando as últimas provas. Tentei estágio em várias escolas (públicas e privadas) e as respostas foram: “Já estamos com muitos estagiários” e “O ano letivo já está se encerrando e não podemos aceitar mais estagiários”.

A coordenadora foi bastante exigente com relação aos horários, para cumprir as 40 horas tive que acompanhar dois professores de Geografia do ensino fundamental em diferentes anos, 6º ao 9º. Por um lado foi bem bacana porque pude conhecer várias turmas e perfis diferentes de alunos. Infelizmente não permitiram que eu tirasse fotos da escola e por isso não poderei publicar imagens no blog.

A escola é coordenada por uma congregação católica, por isso tem uma Irmã na direção, as freiras moram em um andar construído acima da escola que é bastante ampla e completa: Possui quadras, refeitório, biblioteca, cantina, papelaria, teatro, laboratórios de informática, ciências/química/física e até uma capela. Há muitas referências do catolicismo na escola como imagens de santos e uma bíblia antiga. Atende do berçário ao ensino médio.

Abaixo segue um breve histórico da escola:


“O Colégio Nossa Senhora das Dores é uma instituição conceituada da Congregação de São João Batista. Há 65 anos, semeia valores e conhecimentos, na comunidade educacional, formando crianças, jovens e adultos para uma atuação plena na sociedade. Trabalha com a solidez e a brandura de uma instituição experiente na Educação Infantil, no Ensino Fundamental, no Ensino Médio na preparação para o vestibular e na EJA (Educação de Jovens e Adultos). Na prática educacional são implementadas metodologias eficientes para uma educação de qualidade e referência. Ao reelaborar o seu PPPP (Projeto Pastoral Político Pedagógico), o Colégio Nossa Senhora das Dores intensifica suas ações para a melhoria da qualidade educacional. Assim, passo a passo, traz novas possibilidades e reforça-se no melhor que já existe e projeta-se no futuro promissor.”

Fachada do Colégio Nossa Senhora das Dores


Percorri a escola conhecendo todos os ambientes e vi uma parte da aula de Educação Física que estava trabalhando com a temática “Consciência Negra”. As aula eram divididas em dois grupos, meninos e meninas. Vi somente a aula das meninas que estavam aprendendo danças de origem africana, estavam bem animadas e bem participativas.

O ambiente é bem diferente da EJA no Centro Pedagógico da UFMG, lá era calminho e meio vazio, o CNSD era mais “animado”, tinha mais vida. Em sala de aula também era completamente diferente, algo que até me assustou um pouco foi a preocupação dos alunos com relação à nota e outra coisa que me deixou impressionada: a cooperação entre alunos e professores usando as notas como moeda de troca. Se os alunos falassem alto demais, fizessem brincadeiras fora de hora, ou qualquer outro comportamento não permitido os professores sempre falavam em não dar ou tirar pontos de algumas atividades.


Neste aspecto, Brandão (1981) pontua bem sobre o que é educação: A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam e aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita, e desde onde ajuda a explicar — às vezes a ocultar, às vezes a inculcar — de geração em geração, a necessidade da existência de sua ordem.”

Os alunos são cobrados pelos pais e professores pois devem  passar cada vez em mais testes, no futuro serão adultos, precisam ser "alguém na vida", se inserir no mercado de trabalho, terem bons empregos, serem bons profissionais, acumularem riqueza. Paulo Freire (1987) discorre sobre a concepção bancária da educação como instrumento de opressão, compara os educandos à vasilhas, recipientes a serem preenchidos, à depósitos realizados pelo educador por meio da memorização mecânica do conteúdo narrado. Quanto mais dócil o aluno e a ser enchido e maior o conteúdo a ser depositado pelo educador, melhor será o cenário.


O autor relaciona a educação com a questão opressor oprimido;  "E porque os homens, nesta visão, ao receberem o mundo que neles entra, já são seres passivos, cabe à educação apassivá-los mais ainda e adaptá-los ao mundo. Quanto mais adaptados, para a concepção bancária tanto mais educados, porque adequados ao mundo. Essa é uma concepção que, implicando numa prática, somente pode interessar aos opressores que estarão tão mais em paz, quanto mais adequados estejam os homens ao mundo. E tão mais preocupados, quanto mais questionando o mundo estejam os homens. Quanto mais se adaptam as grandes maiorias às finalidades que lhes sejam prescritas pelas minorias dominadoras, de tal modo que careçam aquelas do direito de ter finalidades próprias, mais poderão estas minorias prescrever."


Abaixo deixo vocês refletirem sobre um mundo (parte dele) padronizado, de números e ordenado.



Children


No ambiente da EJA os alunos não eram tão cobrados quanto as crianças do CNSD, não penso que é uma especificidade da própria escola e sim uma grande diferença entre metodologias de ensino para públicos diferentes. Os adultos voltaram a estudar e realmente tem vontade de aprender ou necessidade para conseguirem postos de trabalhos mais altos que os atuais, são responsáveis por si mesmos. Já as crianças e adolescentes têm que cumprir seu papel, seu “ofício de aluno” como diria Perrenoud, precisam cumprir regras impostas pelos professores e pelos pais. Não que os adultos não precisem cumprir regras, porém a linguagem entre os professores e alunos adultos é a mesma, já entre os professores adultos e alunos crianças/jovens é diferente, estes querem por vezes gritar, cantar, correr, desenhar, pintar, brincar, ouvir música... e isto não cabe em sala de aula, o que é imposto pela hierarquia (coordenadores, professores) no atual sistema de educação que temos nas escolas. Os alunos devem prestar atenção em uma palestra, fazer exercícios dos livros, por vezes usar alguma metodologia diferenciada, como uma música teatro etc. mas o que é exceção para os adultos é regra para as crianças e jovens, pode-se pensar que suas mentes são mais criativas e seus comportamentos tem mais alegria, mais cor, mais som que o de um adulto e por isso exigem metodologias que trazem estes elementos.

Pode parecer uma supervalorização das crianças e jovens, em detrimento dos adultos, mas de fato acredito nisso, as crianças exigem um maior “pensar criativo” dos professores o que exige também mais energia empenhada nos planos de aula, e ferramentas pedagógicas. Desta forma acho que o ensino fará sentido em suas vidas.

Fico a pensar em como seriam aulas ministradas por crianças/jovens para crianças/jovens!!! Não teria toda a experiência a passar para seus alunos porém a linguagem/comportamento seriam os mesmos.

Vídeo "A grande viagem ao espaço"


Esta imposição para as crianças/jovens se adaptarem ao mundo dos adultos é realidade, pois um dia serão adultos, é uma questão de poder e de sobrevivência, o mundo é assim porque se passa mais tempo na vida sendo adulto que criança... Podemos pensar e divagar, caso fôssemos maior parte da vida crianças e jovens e terminássemos a vida assim, teríamos que aprender esta linguagem e não a de um adulto. É só uma questão de trocar as posições e papéis. Para esta reflexão indico um filme excelente, o qual aborda com delicadeza e poesia as diferentes fases da vida: 

Trailer - "O curioso caso de Benjamin Button" (2008)

No recreio dos alunos eu ia para a sala dos professores e dava início a algumas conversas informais. Os alunos tem aula de religião e me falaram que o professor ensina a disciplina mais em uma perspectiva histórica e de valorização da diversidade, aprendem sobre o surgimento, características, públicos, disseminação pelo mundo, espacialização, conflitos... E claro não aprendem somente sobre catolicismo, mas também é abordado o protestantismo, religiões de matrizes africanas, judaísmo, islamismo, etc.

Confesso que pensei que seria mais uma aula de religião doutrinária dada a minha experiência como aluna no ensino fundamental do Colégio Batista, onde tínhamos uma “Assembleia” obrigatória em um salão, que era mais uma aula de músicas evangélicas, e também as aulas em sala que abordavam temas diversos da bíblia.

Perguntei ao professor de religião se a escola recebia em sua maioria alunos católicos e ele respondeu que sim, mas que haviam muitos alunos espíritas.

Apenas por curiosidade e atentando à temática "religião" deixo um vídeo muito interessante do canal #Whymaps sobre os conflitos históricos na região do Oriente Médio explicada em mapas.


#WhySyria A crise da Síria bem contada em 10 minutos e 15 mapas




Pois bem, acompanhei as aulas de dois professores de Geografia, o  professor Flávio se formou na UFMG, leciona aulas para o 6º ano no CNSD e trabalha em outra escola. O professor Bento se formou na PUC e ministra aulas há mais de quinze anos, trabalha atualmente somente no CNSD e leciona para o 7º, 8º e 9º anos.

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