A Arquitetura como programa. O espaço escola e o currículo - Augustín Escolano – 1995

O autor inicia o livro abordando a importância de se abordar os temas espaço, tempo escolar, e alfabetização ou processos de comunicação tecnologização da palavra. As questões espaço, tempo e linguagem, ou seja nossas vivencias e representações das mesmas constituem aspectos chave para compreendermos tanto em nível individual quanto interpessoal o social.  O autor fala sobre uma lacuna historiográfica sobre o tema espaço escolar.

O espaço- escola é um mediador cultural em relação a gênese e a formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores, ou seja, um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e aprendizagem. Os espaços educativos como lugares que abrigam a liturgia acadêmica estão dotados de significados e transmite uma importante quantidade de estímulos conteúdos e valores do chamado currículo oculto, ao mesmo tempo em que impõe suas leis como organizações disciplinares.

A espacialização disciplinar é parte integrante da arquitetura escolar e se observa na separação das salas de aulas, na disposição das carteiras, coisas que facilitam a rotina das tarefas e a economia de tempo. As escolas são então "continentes de poder". Deve-se atentar paras significações do espaço-escola e também para sua localização, sua disposição na trama urbana dos povoados e cidades, isso é um elemento curricular.

O autor cita o modelo de E. Faure (1972) de cidade-educativa a partir da definição de Plutarco que afirmava que o melhor instrutor é a cidade e não a escola, este modelo me faz lembrar dos projetos "Cidades educadoras e Bairros-escola desenvolvido pela Associação Cidade Escola Aprendiz:

Porém, contrapõe dizendo que a cidade moderna abandonou seu desenvolvimento real, deslocando escolas para as periferias marginais, longe dos núcleos de maior poder e influência sob o ilusório pretexto da visão higienista ecológica ou naturalista neorromântica, ou seja, que a infância deveria se educar próximo da natureza e longe da vida urbana.

A localização da escola é por si mesma uma variável decisiva no programa cultural e pedagógico comportado pelo espaço e pela arquitetura escolar, que é elemento cultural e pedagógico não só pelos condicionamento que suas estruturas induzem mas também pela simbolização que desempenha na vida social.

O edifício escola serviu de estrutura material para suporte de símbolos como o escudo pátrio, bandeira nacional, imagens e mensagens de homens ilustres. Os muros serviram para exibir imagens e inscrições de personalidades considerados exemplares. Símbolos religiosos e políticos também estão presentes nesta arquitetura escolar. E até mesmo, mais recentemente ideias ecológicas são veiculadas na arquitetura escolar. Outro símbolo presente em prédios é o relógio que pode ser entendido como um organizador da vida da comunidade e também da vida da infância. Significa a cronometria apreendida durante a infância e na comunidade, se constitui assim num símbolo cultural e mecanismo de controle social da duração.

A arquitetura escolar pode ser vista como um programa educador, ou seja, um elemento do currículo invisível ou silencioso, ainda que explicito ou manifesto. A localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações, o traçado arquitetônico do edifício, seus elementos simbólicos próprios ou incorporados e a decoração exterior e interior respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende.
Além disso, o espaço escoar está presente nas atividades de matemática, geografia, biologia e outras disciplinas do currículo em épocas distintas.

O autor demonstra, portanto que a arquitetura escolar é também, por si mesma, um programa, uma espécie de discurso que institui na sua material idade um sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância, marcos para uma aprendizagem sensorial e motora e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também ideológicos.

Dessa forma, o autor ressalta como toda linguagem arquitetônica expressa, além de uma ordem construtiva, um sistema de intenções, valores, um jogo de simbolismos que os autores relacionam a uma tradição cultural. O edifício-escola serve de estrutura material para colocar o escudo pátrio, os símbolos de religião, imagens e pensamentos de homens ilustres, normas morais e higiênicas e o relógio.


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