Este texto traz
algumas reflexões sobre justiça e igualdade social e escolar. Nesta
perspectiva, é comum considerar um grupo de indivíduos com diferentes
necessidades, histórias de vida, sonhos, famílias e classes sociais
simplesmente de alunos/estudantes ou mesmo turma/classe. Percebe-se
implicitamente o que a escolarização faz com estes seres, todos diferentes
entre si em diversos âmbitos, homogeneíza-os e assim os professores também os
percebem e os tratam como iguais entre si, inclusive no que diz respeito a
métodos de aprendizagem e didática, o que é extremamente prejudicial e acaba
inibindo inclusive os resultados dos alunos, seu rendimento, suas expressões e
criatividade.
Dubet fala que
“é importante refletir sobre a justiça escolar para avaliar o sentido e o
alcance das políticas escolares” (p. 540). O texto gira em torno do que o
conceito de meritocracia significa para todo o universo escolar e também dos
alunos “uma meritocracia escolar justa não garante a diminuição das
desigualdades. A preocupação com a integração social dos alunos tem grande
probabilidade de confirmar seu destino social.” (p.540).
De qualquer
forma, a meritocracia prega uma concorrência entre alunos que sempre estão em
busca de uma aprovação que gira em torno de notas e não pela performance de
cada um em diversos aspectos inter-relacionada às diversas disciplinas, acabam
por se descuidar da verdadeira aprendizagem e conhecimento. Essa situação perversa
acaba por gerar alunos vencedores e vencidos que são considerados como
“uniformizados” mas que jamais serão iguais, seja em rendimento escolar seja em
sua realidade social. A escola não
deveria ser um espaço para valorizar a igualdade mas sim a diferença que pode
gerar criatividade e riqueza de conhecimento e aprendizagem. Uma sociedade não
é feita e construída por iguais e muito menos por conhecimentos padronizados, é
na diferença de pensamentos que surgem as ideias diversas e por conseguinte, as
construções e visões de mundo diferenciadas, a inventividade e também as
soluções para problemas e situações que o ser humano tem que saber lidar em
família, em comunidade quem dirá em sociedade.
O Autor resgata
um pouco do histórico e do porquê de se adotar a meritocracia como parâmetro e
meio de justiça escola “contrário das sociedades aristocráticas que priorizavam
o nascimento e não o mérito, as sociedades democráticas escolheram
convictamente o mérito como um princípio essencial de justiça: a escola é justa
porque cada um pode obter sucesso nela em função de seus trabalhos e qualidades
(p. 541).
No início essa
ideia de meritocracia dentro da escola não se aplicava à classe de filhos de
trabalhadores, que nem mesmo tinham acesso às escolas. Com a implantação da
educação gratuita e obrigatória em países ricos “a igualdade de acesso está
quase garantida e constitui um progresso considerável” (p. 541), “A escola é
gratuita, os exames são objetivos, e todos podem tentar a sorte” (p. 542),
entretanto, Dubet ressalta as diversas dificuldades em se tratando das
desigualdades sociais que são realidades bastante presentes e influentes em
seus rendimentos como alunos: A abertura de um espaço de competição escolar não
elimina desigualdades; para ser um sistema realmente igualitário e objetivo não
deveria ignorar as desigualdades sociais dos alunos; no modelo meritocrático há
crueldade para com os alunos: os alunos vencidos, os fracassados são culpados e
responsáveis pelo resultado e não como vítima de todo este sistema que nada tem
de justo ou igualitário, pois a priori a escola lhes deu todas as chances para tyer
sucesso como os outros; o modelo de igualdade de oportunidades implica sérios
problemas pedagógicos, os alunos se
desesperam e desanimam seus professores pois as diferenças logo se aprofundam
rapidamente, este sistema cria enormes desigualdades entre alunos “bons” e
“menos bons”; e por último há o questionamento da ideia de mérito, que seria
uma transformação da herança em virtude individual, ou ainda um modo de
legitimar as desigualdades e o poder dos dirigentes “ Não somos responsáveis
pelo nosso nascimento como sê-los por nossos dons e aptidões?” (p. 544).
O autor,
entretanto enfrenta o dilema de em uma sociedade democrática não ser possível
abandonar o modelo de justiça baseada no mérito por razões de fundo, já que o
mérito por nascença seria uma forma ultrapassada de mérito, então “o mérito
pessoal é o único modo de construir desigualdades justas, isto é, desigualdades
legítimas” (p. 544).
É importante
compreender que dentro de uma escola jamais haverá igualdade e justiça baseados
em igualar ou desconsiderar desigualdades, ainda mais as sociais. “Para obter
mais justiça, seria preciso, portanto, que a escola levasse em conta as
desigualdades reais e procurasse, em certa medida, compensá-las” este seria o
princípio da “discriminação positiva” que gera um aspecto negativo que evita a
concentração de alunos idênticos em questões de cultura, origens, situação
financeira, mas sabe-se esta situação é meramente hipotética e irreal, pois “os
mecanismos de mercados escolares” leva à separação de alunos de acordo com suas
classes sociais em escolas públicas e particulares, em escolas boas ou ruins,
etc. específica para concursos e exames.
A solução para
todos estes problemas, segundo o autor seria o que sugere desde o início:
“mecanismos compensatórios eficazes e centrados nos alunos e em seu trabalho;
estudos dirigidos, atividades esportivas e culturais, estabilidade e qualidade
das equipes educacionais, preparação”. Neste sentido, me parece que a educação
do modelo “escola integral” minimiza um pouco este abismo entre as diferenças
entre classes sociais no que diz respeito de os alunos pobres terem acesso a
atividades variadas que vão além das disciplinas, tais como esportes, passeios
em museus, parques, centros de aprendizagem alternativos, etc. o que os introduz
há um certo tipo de experiência cultural que jamais teriam acesso dado os seus
contextos familiares e socioeconômicos. Também me parece minimamente justo
garantir não somente acesso à escola em questões de vagas e materiais
escolares, mas também deve ser garantido o transporte, alimentação, vestimenta,
dentre outros pormenores, “Uma das formas de justiça social consiste em
garantir um mínimo de recursos e proteção aos mais fracos e desfavorecidos” (p.
546).
Sobre a
eficiência da escola e da sua capacidade de dialogar com o mundo real, ainda
mais o mundo do mercado de trabalho o autor questiona a questão dos diplomas e
seu valor utilitário “Umas das grandes causas da injustiça provém do fato de
que determinados diplomas tem grande utilidade, ao passo que outros não tem
nenhuma, numa escola de massas onde todos – ou quase todos – obtêm diploma.”
(p. 548).
O
autor fala aborda sobre os “alunos vencidos” em que são menos bem tratados e
culpabilizados pelo fracasso escolar, pessoal, de ensino... “são coagidos a se
identificarem com seu fracasso ao acumularem anos e dificuldades ocasionadas
por orientações que os encaminharam para trajetórias escolares indignas (p.
551)”. Também fala que a responsabilidade atribuída a eles pelo fracasso
escolar influencia em sua autoestima, ao contrário, “Uma escola justa
preservaria melhor a dignidade e autoestima dos que não fossem tão bem
sucedidos como se esperava” (p. 552). Para que esta escola justa seja realidade
ele propõe duas ações: Revalorização do ensino técnico e profissional; e afirmação
do papel educativo da escola.
Durante
as aulas no Centro Pedagógico me deparei com uma situação onde a falta ou baixa
autoestima gerou uma situação de agressão entre os colegas. Uma aluna que disse
não saber nada da matéria, que se achava pouco inteligente afirma que outra
aluna estava rindo dela por este motivo. A aluna acusada disse que não estava
rindo por este motivo, mas que estava conversando sobre outro assunto com a
colega do lado. Como estávamos em uma conversa sobre as dificuldades de cada
aluno com relação a disciplina de Geografia, disse a eles que deveriam ter mais
paciência consigo, acreditar que eram capazes de aprender, de vencer os
obstáculos, a rotina e outros problemas, mas que ter auto estima era
fundamental para o processo de aprendizagem deles.
Dubet
afirma que os vencidos serão mais bem tratados quando se pensar que a escola
deve educar todos os alunos independente de seu desempenho escolar (p. 552).
Por fim afirma que é necessário aprender a defender outros princípios de
justiça e a combiná-los com um modelo meritocrático, ou ainda uma dose de discriminação
positiva a fim de assegurar maior igualdade de oportunidades. A escola justa
deve se preocupar com questões que permeiam o acesso a bens escolares e a
utilidade dos diplomas. Deve se preocupar para que as desigualdades escolares
não produzam desigualdades sociais, “Em um sistema competitivo justo, como o da
escola meritocrática da igualdade de oportunidades, deve tratar bem os vencidos
na competição, mesmo quando se admite que essa competição é justa” (p. 553).